Lula na ONU | promessas para fora, desprezo para dentro
Presidente anuncia doação externa enquanto o Brasil enfrenta carências internas e ataca PEC da Blindagem com discurso populista
Por Yasmim Borges
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva voltou de Nova York após três dias de discursos na ONU que tiveram mais pose e marketing do que resultados reais. Em sua fala final, Lula aproveitou o palco internacional para atacar a chamada PEC da Blindagem, arquivada no Senado, classificando-a como “vergonha nacional”. Na prática, o presidente usou o espaço mais uma vez para transformar qualquer pauta que não lhe favoreça em inimiga da sociedade.
Na coletiva, Lula fez questão de exibir encontros e promessas: reunião com Donald Trump, tentativa de se colocar como mediador na guerra entre Rússia e Ucrânia e, como estrela de seu discurso, a promessa de doar 1 bilhão de dólares para um fundo internacional de florestas tropicais. O detalhe incômodo é que, enquanto joga cifras bilionárias para fora, milhões de brasileiros ainda enfrentam hospitais sucateados, insegurança nas ruas e falta de infraestrutura básica.
Lula também cobrou compromissos climáticos de outros países para a COP 30, marcada para o Brasil, mas sua imagem internacional continua manchada pela complacência com ditaduras amigas, como a da Venezuela. Falar de democracia em evento ao lado do Chile soa no mínimo contraditório para um presidente que relativiza regimes autoritários sempre que lhe convém.
Sua fala sobre a PEC da Blindagem reforçou a narrativa populista: “quem não faz coisa errada não precisa de proteção”. Um discurso raso que ignora a complexidade do tema e o direito a garantias institucionais mínimas para quem atua na vida pública. Mais uma vez, Lula apela para frases de efeito em vez de promover o debate sério que o país exige.
Ao fim, o que ficou da viagem à ONU foi a tentativa de posar como grande líder global, enquanto o Brasil segue à deriva. Promessas internacionais bilionárias, discursos contraditórios e ataques baratos a uma proposta legítima mostram um governo mais preocupado com aplausos lá fora do que com as necessidades urgentes aqui dentro.

